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Cultura PRIMO MOR

A vida Egressa de Enock

O homem que desbravou o sertão.

30/05/2024 às 19h03
Por: MARCELO NOBRE Fonte: OSVALDO JUNIOR HISTORIADOR
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Arquivo Pessoal
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No dia 25 de maio do ano da Graça de 2024 o povo euclidense ficou de luto, devido ao falecimento do ilustre conterrâneo Enock Reis, mais conhecido como “Enock Barbeiro”.

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Falar de Euclides da Cunha é falar dos seus habitantes, personagens, das figuras folclóricas e de pessoas conhecidas e amadas por toda a comunidade.

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Enock, sem dúvida, preenche todos esses requisitos, pois durante seus cinquenta e poucos anos de atividade pública pela prestação de serviços, cuja idade de um dos seus filhos, amigo deste redator, Edivan, “o grande barbeiro” trabalhou com afinco e maestria em seu salão. Atendia com educação e amor pelo que fazia. Cuidava de uma seleta freguesia endinheirada  e dedicava também aos variados consumidores de baixos recursos disponíveis para fazer a barba e cabelo.

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Pois com a chegada dos hodiernos tempos, seu Enock passou a fazer experimentos diferenciados da boa maneira de gerir os bons negócios do receptáculo estabelecimento.

No salão do barbeiro de Enock, entravam: advogados, juízes, médicos, historiadores, professores, estudantes, vaqueiros, gente do povo, pessoas da nata sociedade local, dos enfermos que muitas vezes o generoso Enock ia visitar na casa, gente que não pagava e de gente que além de dar um toque no visual, queriam saber de notícias, política, novidades e até da vida alheia. Por muito tempo era o único da cidade que fazia a cabeça de muita gente.

O genitor deste narrador, Oswaldo Dantas era freguês ativo do “grande seu Enock” e quando passou a morar na capital, assim que chegava no sertão, nunca deixou de frequentar o referido salão. Sempre visitava o velho amigo e era “aquela coisa” dos admiradores de Enock; chegar no Cumbe, tinha que passar na Barbearia do seu Enock, caso contrário: era “um Deus nos acuda”.

Dizia o povo daquela década dos anos 80 que a barbearia, situado na Avenida Rui Barbosa era o segundo lugar de notícias, alí você sabia de notícias altamente noticiosas, boca de urna, qual o candidato vencedor das próximas eleições, nomes de candidatos surgia alí, empregos vagos na cidade e, sobretudo, encontros de boa localização. Sempre existia antes da barbearia ou depois do acintoso local. A saber, o primeiríssimo lugar de notícias era a afamada “Rua da Bomba”, hoje conhecida como Avenida Almerindo Rehem.

Para quem nao sabe, o nome completo do nosso homenageado era Enock Alves dos Reis, filho caçula do Sr.  Elpídio Alves dos Reis e da srª Silvana Lívio de Carvalho, nascido no povoado chamado de Umburanas e hoje renomeado de Ruilândia no dia 24 de março de 1935. Quando Enock nasceu, o Cumbe, como era soletrado, tinha como prefeito José Camerino de Abreu que fora nomeado pelo governador interino Corrêa de Menezes. O nome atual de Euclides da Cunha, foi alterado no dia 30 de novembro de 1938.

Nos anos 50 ou 60, este repórter precisa um pouco mais de pesquisa para apurar de quem foi o mandato que ocorreu esse fato. Ruilândia que antes era conhecida de Umburanas e que por justas homenagens foi concedida ao “Patrono dos Advogados do Brasil”. Recebeu o nome de Ruilândia na definição , “Terra de Rui”. A proposta foi elaborada pelo professor Teófilo que acumulava dois cargos, o de professor e o de secretário municipal. O projeto fora encaminhado para a Câmara Municipal de Euclides da Cunha e aprovado pelos nobres vereadores de então. Por sua vez, o dito planejamento foi bem recebido pela calorosa população local.

Durante o primeiro mandato do prefeito Antônio Batista de Carvalho conhecido pelos amigos íntimos de “prefeito ABC”, precisamente no ano de 1949, o destemido rapazinho, migrou do distrito de Umburanas para a sede do Cumbe do Major com uma idade impúbere que valida dizer, menor de 16 anos, então com 14 anos, sozinho,  ele partiu com a cara e a coragem, rumo ao desconhecido e do íngreme terreno de 14 km. Reza a lenda que foi uma bela caminhada das Umburanas ao centro de Euclides da Cunha.

Depois do falecimento dos seus pais, o menino Enock Reis, decidiu que a lida da roça não era a sua praia. De modo que convocou os irmãos, os saudosos Joãozinho e Lurdes e expressou o que ele realmente queria, os  sonhos que ele engendrara e o tipo de vida que ele queria levar.

No centro o garoto se deparou com todo o tipo de serviços e trabalhos ardorosamente puxados pela sua estrutura óssea de criança. Aprendeu diversas profissões durante a sua juventude e se encantou por um ofício que passou a chamar de seu.

No desabrochar dos dezoito anos, apaixonou-se pelo ofício de barbearia, cuja profissão dos mais antigo, equivalia ao médico, por isso, prejorativamente o médico leigo era chamado de “barbeiro”.

Não era o caso de “Reis”, um autodidata assumido que aprendeu algo sem ter professor, um observador nato, um exímio curioso que aprendera a profissão com um olho na habilidade do mestre que lhe ensinara o ofício e “os outros olhos” na filha do patrão que mais tarde se desposara com a exuberante Otávia da Silva dos Reis.

Enock Reis teve sete filhos, a maioria com as iniciais do nomes das letras, “Ed”, outros tantos deve ter tido de netos e as mulheres, diga-se de passagem, ouso sem hesitação de afirmá-las que elas são mais bonitas e poderosas do que os homens.

No ano de 2017 foi acometido pelo AVC, doença conhecida como Acidente Vascular Cerebral que o impossibilitou de viver normalmente, pois era um homem que gostava da vida, de estar sempre arrumado e perfumado por conta das suas atividades comerciais e pelo seu jeito natural de ser.

Um homem carregado de estilo, vaidoso, bem apessoado, comunicativo e um grande “contador de causos”. Gostava muito do “Cabeça Branca”, do ex governador Antônio Carlos Magalhães e se declarava um “carlista ferrenho”, até no dia que seu sonho se realizou com a visita do então governador “em campanha”. ACM, apareceu de supetão na barbearia e logo, aproveitou para dar um grau no cabelo, bigode e barba. Daí surgiu uma duradoura amizade entre um euclidense e um governador. Essa amizade se estendeu entre Edivan e ACMNeto que atualmente é um político promissor e futuro governador da Bahia.

No entanto, quando houve o AVC, dispôs do apoio incondicional da família que lutou incondicionalmente pela pronta recuperação deste homem, amigo de todos, guerreiro de vocação, pessoa generosa e de um pai extremado da Família Reis. Obteve um tratamento digno e régio dos descendentes que amavam o patriarca e, passou a amar ainda mais quando o genitor ficou na “cadeira de rodas” e especialmente a sempre presença constante da sua filha coruja, amada e apaixonada pelo genitor, Églice Reis.

É uma pena, que um dia desses, Enock, aos 89 anos, vividos e bem aproveitados partiu para o Oriente da Vida Eterna.

Em breve a família lançará um livro, um conto, uma resenha e uma história sobre a vida egressa de Enock Reis, o homem que desbravou o sertão com o seu “jeitão” de fazer amigos, contar histórias e, sobretudo, de propagar a história da cidade.

Arrisco então aqui nessas pequenas linhas uma pergunta básica. “Vocês já foram no Enock Barbeiro, cortar cabelo, fazer a barba, ouvir os “causos” de nossa gente. Senão, caso contrário se apresse e vá lá.”

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Edivan Silva dos ReisHá 8 meses SalvadorParabéns ao DR Oswaldo Jr pela lembranças do meu Pai, vai o meu agradecimento e de toda a família ao seu belíssimo trabalho de pesquisa, meu muito obrigado amigo !
Vladimir Aras Há 8 meses DFÓtimo texto de quem conhece muito a história euclidense. E excelente retrato de uma figura que marcou a vida do Cumbe.
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Sobre o município Euclides da Cunha é um município brasileiro do estado da Bahia. Localiza-se a uma latitude 10°30?27 sul e a uma longitude 39°00'57 oeste estando a uma altitude de 472 metros. Sua população de acordo com a estimative populacional de 2019 e de 60.585 habitantes Possui uma área de 2 028.421 m².
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