Otabagismo está ligado a vários problemas de saúde, que afetam todo o corpo. E por ser um processo que prejudica diretamente todo o aparelho respiratório, o ato de inspirar e expirar a fumaça do cigarro está diretamente relacionado ao desenvolvimento ou ao agravamento das doenças respiratórias, que estão associadas ao tabagismo, incluindo as mais comuns, como rinite e sinusite.
Sobre a relação entre essas duas doenças e o cigarro, a cirurgiã dentista Sandra Silva Marques, que também é diretora técnica de saúde do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, explica as diferenças, algumas semelhanças e como as enfermidades comprometem a saúde.
Rinite x Sinusite
Apesar de parecidas, principalmente em relação aos sintomas, as duas doenças acometem regiões diferentes. Segundo Sandra, a rinite é uma inflamação na mucosa do nariz e tem como sinais característicos a coceira no nariz, na garganta, no céu da boca e nos olhos, que também tendem a apresentar ardência e vermelhidão. Além disso, as crises são acompanhadas por espirros, coriza e obstrução nasal.
A rinite pode ser classificada como alérgica ou não-alérgica. No segundo caso, a causa pode estar relacionada a vírus e bactérias ou qualquer outro motivo que não seja voltado para a alergia. Sandra explica que, habitualmente, as crises não-alérgicas acontecem de forma aguda e têm curta duração, e são associadas a resfriados, tendo maior incidência durante as estações mais frias do ano e sendo consequência da maior amplitude térmica (diferenças de temperatura).
Já quando se fala na versão alérgica, o quadro tende a ser desencadeado quando a pessoa entra em contato com os alérgenos. A profissional explica que esse é o nome dado a qualquer partícula que tenha capacidade de desencadear uma reação alérgica, a reação do sistema imune a agentes estranhos. Eles podem entrar em contato com o corpo por inalação, como o pólen, a fumaça, produtos químicos e poeira. Sandra reforça que o que causa a reação alérgica não é a ação direta e ativa dos alérgenos, mas sim a resposta exagerada do organismo ao contato com essas substâncias.
Já a sinusite é o nome dado para uma infecção nos seios paranasais, que são cavidades internas da face e estão localizadas próximas do nariz. A função dessas estruturas é dar ressonância à voz, ajudar na circulação do ar que é inspirado e expirado pelo sistema respiratório, além de ter um papel anatômico no rosto. Sandra explica que essas são regiões revestidas de muco, continuamente lançado para a região nasal. A infecção e inflamação da região acontece quando esse fluxo é interrompido.
Assim como a rinite, existem dois tipos de sinusite: a crônica e a aguda. A crônica apresenta quase os mesmos sintomas da aguda, mas a febre e a dor nos seios da face, por exemplo, podem estar ausentes, explica a especialista. Além disso, na sinusite crônica, dois sintomas se destacam: a tosse e a cacosmia, nome dado a uma condição de cheiro em que a pessoa aprecia ou se sente atraída por odores desagradáveis.
“Os sintomas da rinite também são mais presentes durante a noite, ao se deitar, e podem durar cerca de três meses, mesmo sendo tratada. Já na sinusite aguda, os sintomas duram por no máximo quatro semanas e as dores de cabeça e no seio da face são predominantes. As dores variam de pontadas, pulsátil ou sensação de pressão. Além disso, também é comum ocorrer obstrução nasal com secreção amarela ou esverdeada. Se forem de origem bacteriana, a terapia medicamentosa, além de analgésicos e anti-inflamatórios, também contará com cobertura antibiótica”, orienta Sandra.
Onde o cigarro entra nessa história?
Embora a causa da sinusite possa ser uma infecção causada por agentes externos, como vírus e bactérias, o cigarro também tem a sua participação. Segundo Sandra, existem alguns fatores que podem predispor o surgimento da sinusite, como o contato com substâncias irritantes aos seios da face. E o fumo é um deles. O mesmo vale para a rinite, afinal os alérgenos podem entrar em contato com o corpo por inalação. Nesse caso, por meio da fumaça.
Diante disso, o tabagismo tem um potencial muito grande de trazer complicações para as duas condições. De acordo com a especialista, o processo de queima do tabaco, chamado combustão, ocorre a temperaturas superiores a 600°C, fazendo com que o cigarro libere milhares de substâncias nocivas ao organismo, como monóxido de carbono e amônia, prejudicando o bom funcionamento dos órgãos e tecidos. Esses compostos podem ser muito irritantes para a mucosa oral.
E o malefício se estende aos fumantes passivos também, que sofrem com a ação dos compostos degradados com esta combustão, podendo desencadear processos alérgicos. Sandra explica ainda que a fumaça do cigarro dos outros é uma das principais causas nos casos de acometimento de sinusite, de acordo com um estudo da Universidade de Brock, no Canadá. Outros estudos mostram que o fumo passivo pode estar por trás de 40% dos casos de sinusite crônica nos Estados Unidos. Por meio do acompanhamento de alguns voluntários, os pesquisadores descobriram que participantes muito expostos à fumaça do cigarro dos outros – especialmente no ambiente de trabalho e em ocasiões sociais, como festas e encontros – triplicaram as chances de desenvolver a doença crônica.
Em resumo, o tabagismo é SIM um fator de risco para a sinusite e rinite, porque induz o aumento da resistência das vias aéreas, ou seja: dificulta o fluxo de ar, provoca irritação, congestão nasal e um excesso de secreção na região, caracterizado por um corrimento nasal. Além disso, o tabaco também tem um efeito adverso na função imune do sistema respiratório e na geração de metaplasia da mucosa olfatória, que seria uma mudança de células para uma forma que é atípica para aquela região. Se esse quadro não for revertido, pode vir a se tornar um câncer.
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