Um alerta preocupante vindo da comunidade científica tem acendido o sinal de atenção entre médicos e pacientes: o uso contínuo de medicamentos amplamente consumidos no Brasil, como omeprazol, clonazepam e zolpidem, pode estar relacionado a um risco aumentado de demência. As conclusões vêm de dois estudos internacionais de grande impacto, que reforçam a necessidade de se repensar o uso prolongado desses remédios, especialmente entre os idosos.
O primeiro estudo, publicado na revista científica Neurology, analisou dados de cerca de 5.700 pessoas com 45 anos ou mais, todas sem histórico de demência no início do acompanhamento. Os participantes foram acompanhados por uma média de quase seis anos. Os resultados mostraram que indivíduos que utilizaram inibidores da bomba de prótons (IBPs) — como o omeprazol, pantoprazol e esomeprazol, comumente usados no tratamento de refluxo gástrico e úlcera — por mais de quatro anos apresentaram um aumento de 33% no risco de desenvolver demência em comparação com aqueles que nunca usaram ou usaram por menos tempo.
Os pesquisadores acreditam que esses medicamentos, ao alterarem o ambiente ácido do estômago, podem afetar a absorção de nutrientes essenciais, como a vitamina B12 e o magnésio, que são fundamentais para a saúde do sistema nervoso central. A deficiência crônica desses nutrientes poderia contribuir para a degeneração cognitiva ao longo do tempo.
Já o segundo estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco e publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, acompanhou cerca de 3.000 idosos ao longo de nove anos e trouxe outro dado alarmante: o uso frequente de medicamentos para dormir, especialmente aqueles da classe dos benzodiazepínicos (como clonazepam e diazepam) e dos chamados “hipnóticos não benzodiazepínicos” (como zolpidem), foi associado a um risco até 79% maior de desenvolver demência.
A pesquisa também destacou diferenças raciais nos resultados, mostrando que o risco foi particularmente elevado entre idosos brancos, o que pode indicar influências de fatores genéticos, culturais ou comportamentais. Além disso, os cientistas alertam para o risco de dependência e efeitos colaterais desses medicamentos, que incluem confusão mental, quedas e sonolência excessiva — todos agravantes no envelhecimento.
Diante dessas evidências, médicos e especialistas em geriatria reforçam a necessidade de uma abordagem mais cautelosa. A recomendação é que esses medicamentos sejam utilizados apenas quando estritamente necessários, e por períodos curtos, sempre sob supervisão médica. Em muitos casos, alternativas não farmacológicas podem ser eficazes. No caso da insônia, por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado uma opção segura e eficiente a longo prazo.
Em relação aos problemas gastrointestinais, mudanças na dieta, na postura ao dormir e a redução do consumo de alimentos ácidos ou gordurosos podem aliviar sintomas do refluxo sem a necessidade de uso contínuo de medicamentos.
Embora os estudos não provem uma relação de causa e efeito — ou seja, não afirmam que os medicamentos causam diretamente a demência —, os dados são suficientes para justificar uma reavaliação no uso indiscriminado desses fármacos, sobretudo entre os idosos. A orientação principal é clara: jamais se automedicar e sempre conversar com um profissional de saúde sobre os riscos e benefícios de qualquer tratamento.
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