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Infecção por Salmonela e resistência ao ciprofloxacino oferecem risco elevado a pacientes com anemia falciforme

Com sistema imunológico mais vulnerável, pessoas com anemia falciforme correm risco de complicações graves e até fatais ao contrair salmonelose — e resistência ao antibiótico agrava o cenário

04/06/2025 às 07h33
Por: MARCELO NOBRE Fonte: REDAÇÃO
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Foto: Reprodução Redes Sociais
Foto: Reprodução Redes Sociais

A infecção por Salmonella, conhecida como salmonelose, é frequentemente vista como uma doença passageira, marcada por diarreia, febre e dor abdominal. Contudo, para pessoas com anemia falciforme, a doença pode se tornar muito mais perigosa, levando a complicações sérias, hospitalização prolongada, infecções sistêmicas e até óbito.

Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a Salmonella é responsável por 1,35 milhão de infecções, 26.500 hospitalizações e 420 mortes por ano nos EUA. No Brasil, apesar de menos documentado, o impacto é igualmente preocupante, sobretudo em comunidades com acesso limitado a saneamento e assistência médica.

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Anemia falciforme: quando a salmonelose se torna um risco real de vida

A anemia falciforme é uma doença genética que afeta os glóbulos vermelhos, alterando sua forma e dificultando sua circulação adequada pelo corpo. Isso provoca dores intensas, falta de oxigenação dos tecidos e enfraquece o sistema imunológico. Como consequência, portadores da doença têm maior vulnerabilidade a infecções bacterianas, incluindo a salmonelose.

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O baço — órgão responsável por filtrar o sangue e combater infecções — geralmente é danificado ou atrofiado em pessoas com anemia falciforme. Isso os torna altamente suscetíveis a infecções invasivas por bactérias encapsuladas, como Salmonella spp.. Quando infectados, esses pacientes não só correm risco de desidratação severa, mas também de complicações potencialmente fatais, como:

  • Bacteremia fulminante (infecção generalizada do sangue);

  • Osteomielite (infecção óssea), particularmente comum em pacientes com falciforme;

  • Sepse, uma resposta inflamatória grave que pode causar falência de órgãos;

  • Necrose avascular causada pela inflamação prolongada e vaso-oclusão.

Um estudo publicado pelo National Institutes of Health (NIH) destaca que crianças com anemia falciforme têm até 300 vezes mais risco de desenvolver osteomielite por Salmonella do que crianças sem a condição.


Resistência ao ciprofloxacino: um problema crescente

Em condições normais, infecções por Salmonella podem ser autolimitadas. Mas em grupos de risco — como os portadores de anemia falciforme — o uso de antibióticos é indispensável. O problema é que o ciprofloxacino, um dos principais antibióticos usados contra a Salmonella, vem perdendo eficácia devido ao aumento da resistência bacteriana.

Essa resistência surge, principalmente, pelo uso indiscriminado do medicamento, como:

  • Prescrição sem confirmação laboratorial da infecção;

  • Tratamento inadequado em dosagem ou tempo de uso;

  • Ingestão combinada com laticínios ou cálcio, o que prejudica a absorção do antibiótico.

Quando o ciprofloxacino falha, a infecção pode se espalhar de forma rápida e agressiva no organismo de pacientes com anemia falciforme, exigindo internação urgente e uso de antibióticos mais fortes, como ceftriaxona intravenosa. Mesmo assim, as chances de complicações, sequelas e internações prolongadas são altas.


Efeitos a longo prazo e complicações associadas

Além dos riscos imediatos, tanto a infecção quanto o tratamento agressivo com antibióticos podem gerar efeitos colaterais duradouros em quem tem anemia falciforme:

  • Artrite reativa: inflamação das articulações que pode durar meses;

  • Endocardite: infecção nas válvulas do coração;

  • Tendinites e neuropatias induzidas por antibióticos como o ciprofloxacino;

  • Descompensação da anemia causada pelo estresse infeccioso no organismo;

  • Necrose óssea agravada por osteomielite não tratada a tempo.

Para esse grupo, a salmonelose não é um episódio trivial — é uma ameaça real à vida.


O papel da prevenção e do diagnóstico correto

Prevenir a infecção por Salmonella em pessoas com anemia falciforme deve ser prioridade. Recomenda-se:

  • Evitar alimentos crus ou mal cozidos, especialmente carnes, ovos e frangos;

  • Lavar bem frutas, legumes e utensílios de cozinha;

  • Manter boa higiene das mãos, especialmente antes das refeições;

  • Evitar exposição a fontes contaminadas, como água não tratada ou ambientes com manipulação inadequada de alimentos.

Em caso de sintomas gastrointestinais ou febre persistente, é fundamental procurar atendimento médico imediato e realizar cultura de fezes ou exames de sangue, para confirmar a presença da bactéria e fazer o teste de sensibilidade (antibiograma), que determina o antibiótico eficaz.


Conclusão: uma ameaça silenciosa, mas evitável

A infecção por Salmonella em pessoas com anemia falciforme é uma combinação perigosa. A resistência ao ciprofloxacino, que já é uma realidade crescente, piora ainda mais o quadro. A única maneira de combater essa ameaça é por meio da educação em saúde, diagnóstico precoce, uso racional de antibióticos e medidas preventivas rigorosas.

Pais, cuidadores, profissionais da saúde e pacientes precisam estar atentos aos sinais e agir com rapidez e responsabilidade. Porque, para quem tem anemia falciforme, até uma infecção que parece simples pode custar caro — e, muitas vezes, a própria vida.

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