No coração do sertão baiano, entre o solo seco e rochoso da região de Monte Santo, repousava silenciosamente, há milhares de anos, um visitante do espaço: o meteorito de Bendegó. Descoberto por acaso em 1784, próximo ao leito seco do Riacho Bendegó, o colossal bloco de metal impressionava pelo tamanho, pelo brilho e, sobretudo, pela origem: extraterrestre.
Pesando cerca de 5.800 quilos e medindo aproximadamente 2,2 metros de comprimento por 1,5 metro de largura, o Bendegó é composto, essencialmente, por ferro (cerca de 93%) e níquel. Ele pertence à classe dos sideritos, meteoritos metálicos, que representam menos de 10% dos meteoritos encontrados na Terra. Estudos indicam que sua formação data de mais de 4 bilhões de anos, sendo um remanescente da formação do sistema solar.
A descoberta foi feita por Domingos da Mota Botelho, um garoto da região. Ao tentar remover o enorme bloco, os moradores da época logo perceberam o peso incomum e o material metálico que não parecia de origem terrestre. Inicialmente, o governo português tentou levar o objeto até Salvador, mas a operação falhou: o meteorito rolou para uma depressão e permaneceu lá por mais de cem anos.
Somente em 1887, com autorização do imperador Dom Pedro II e sob liderança do engenheiro Humberto Saraiva, foi organizada uma expedição histórica para o transporte. Com técnicas rudimentares, foi construída uma carreta de madeira, trilhos e estruturas de ferro, puxadas por dezenas de bois. Foram mais de 100 km percorridos até a estação ferroviária de Queimadas. De lá, seguiu para o Rio de Janeiro, chegando finalmente ao Museu Nacional em 1888.
O Bendegó tornou-se rapidamente uma das peças mais emblemáticas do Museu Nacional. Atraía estudiosos, curiosos e cientistas de todo o mundo. Em 1925, o físico alemão Albert Einstein visitou o museu e ficou impressionado com o meteorito. A visita foi registrada em fotografias e jornais da época. Para Einstein, o Bendegó era uma janela para o cosmos, uma relíquia que ajudava a entender a origem dos corpos celestes e da Terra.
Além do valor histórico, o meteorito tem importância científica imensa. Ele ajudou a compreender a composição dos planetas, os processos de diferenciação do núcleo terrestre e a história dos impactos cósmicos sobre o planeta.
Em setembro de 2018, o Brasil e o mundo choraram o incêndio que destruiu quase todo o acervo do Museu Nacional, com peças raríssimas da paleontologia, arqueologia e etnologia. Mas, em meio às cinzas, o Bendegó permaneceu intacto. Imagens feitas após o desastre mostravam o meteorito envolto em escombros, mas praticamente ileso.
Sua estrutura metálica e composição resistente ao calor impediram que o fogo o destruísse. Ele se tornou um símbolo de resistência da ciência e da cultura brasileira, sendo colocado na entrada da área restaurada do museu como lembrança de tudo o que foi perdido — e do que ainda pode ser reconstruído.
Mesmo estando fisicamente no Rio de Janeiro, o meteorito de Bendegó ainda é orgulho do povo de Monte Santo. A cidade comemora a descoberta como parte da sua identidade histórica e cultural. Monumentos, livros e até festas locais lembram do "gigante de ferro que caiu do céu".
Em 2025, completam-se 241 anos desde sua descoberta. Há planos de ampliar a divulgação científica em torno do meteorito, com projetos que envolvem escolas da Bahia, exposições itinerantes e documentários.
O Bendegó segue fascinando gerações. Não apenas por sua origem interestelar, mas por sua trajetória que mistura ciência, história, cultura popular, resistência e identidade brasileira.
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