Um alerta urgente está sendo aceso — literalmente — no transporte marítimo internacional. O incêndio a bordo do navio cargueiro Morning Midas, que transportava cerca de 3.000 veículos, incluindo 800 elétricos, no Oceano Pacífico, levanta sérias preocupações sobre a segurança no transporte de veículos movidos a baterias de íon-lítio.
O incidente aconteceu na última semana de maio de 2025, a cerca de 1.800 km a sudoeste do estado norte-americano do Havaí. O navio de bandeira panamenha partiu do Japão com destino à Califórnia, quando um incêndio teve início em um dos conveses inferiores, em meio às centenas de carros embarcados. O fogo rapidamente se espalhou e tornou-se incontrolável.
Os 22 tripulantes a bordo foram resgatados com segurança por embarcações de apoio após o alerta de emergência. Eles foram evacuados antes que o fogo comprometesse toda a estrutura do navio. O Morning Midas foi deixado à deriva, queimando no meio do Oceano Pacífico, e até o momento as autoridades marítimas dos EUA e do Japão acompanham a movimentação da embarcação para decidir como será feita a operação de salvamento ou afundamento controlado.
Boa parte dos veículos transportados no navio era composta por modelos elétricos e híbridos. Segundo especialistas, as baterias de íon-lítio representam um perigo significativo no transporte em larga escala: em caso de curto-circuito ou dano físico durante o carregamento ou navegação, elas podem entrar em “fuga térmica”, gerando calor extremo, fumaça tóxica e incêndios que se espalham com facilidade.
De acordo com estimativas de segurança marítima, pode-se necessitar de até 30 mil litros de água para conter um incêndio originado por uma única bateria em combustão. Além disso, o fogo causado por lítio não pode ser apagado com água convencional — é necessário utilizar produtos químicos específicos ou agentes extintores especiais.
Esse não é um caso isolado. Em fevereiro de 2022, o navio Felicity Ace, que transportava mais de 4.000 veículos de marcas como Porsche, Audi e Bentley, pegou fogo no Oceano Atlântico. Após vários dias em chamas, a embarcação afundou com toda a carga a bordo, gerando um prejuízo estimado em US$ 400 milhões.
Outro caso recente ocorreu em julho de 2023, quando o navio Fremantle Highway, transportando 500 carros elétricos, pegou fogo ao largo da costa da Holanda. As chamas resultaram em uma evacuação de emergência e danos estruturais severos.
O crescimento exponencial do mercado de carros elétricos não está sendo acompanhado por uma atualização eficiente nos protocolos de segurança marítima. Navios cargueiros tradicionais ainda não são devidamente equipados para lidar com as exigências do transporte de grandes volumes de veículos elétricos. Segundo um relatório da Agência Marítima Internacional, menos de 30% das embarcações comerciais possuem hoje sistemas específicos para combate a incêndios de baterias de lítio.
Instalação de sensores térmicos e câmeras infravermelhas nos conveses com EVs.
Separação por compartimentos reforçados entre veículos elétricos e os demais.
Extintores químicos de alta capacidade, compatíveis com incêndios de classe D (metais combustíveis).
Treinamento especializado das tripulações para evacuação e combate ao fogo em situações com baterias de alta voltagem.
Auditorias técnicas pré-embarque, com testes de integridade das baterias dos veículos.
A situação do Morning Midas é um sinal de que o transporte marítimo global precisa agir com urgência. À medida que o mundo avança para uma frota automotiva mais limpa, os riscos colaterais também se transformam. O que era um problema pontual se torna agora uma questão de segurança global, exigindo respostas técnicas e políticas rápidas antes que novas tragédias venham à tona — ou ao fundo do mar.
Mín. 13° Máx. 26°