Parece mentira, mas é a mais pura e trágica realidade: em Euclides da Cunha, no interior da Bahia, a saúde pública virou palco de abandono, e não de festas. Segundo denúncias recebidas de forma anônima — por motivos óbvios, afinal, ninguém quer virar alvo de perseguição política —, os funcionários do Hospital Português (Unidade ACM) estão há mais de 15 dias sem receber salário, e a previsão para o pagamento referente ao 5º dia útil já foi “gentilmente” adiada… mais uma vez.
A justificativa extraoficial repassada aos colaboradores é quase uma obra de ficção: o hospital culpa o atraso no repasse da prefeitura, que por sua vez, parece muito ocupada organizando megafestejos juninos do que cuidando de suas obrigações básicas. O curioso é que ninguém nega a responsabilidade — mas também, ninguém assume nada.
Para quem achava que a saúde era prioridade, a realidade local mostra o contrário. A cidade, que viu cerca de R$ 5 milhões voarem com bandas, palcos e camarotes em junho, agora vê profissionais da saúde adoecendo de verdade, vítimas de esgotamento físico e emocional, porque o quadro de funcionários está desfalcado e a demanda, claro, não diminui. Mas pelo visto, burnout não dá curtida em rede social, então segue ignorado.
A cereja do bolo? A atual gestão tem como prefeito oficial Helder Macedo, mas quem de fato dá as cartas, segundo a sabedoria popular e os corredores políticos, é Luciano Pinheiro — ex-prefeito, atual manda-chuva e aspirante a deputado estadual em 2026. Ou seja: temos um “prefeito em exercício” e um “prefeito em influência”, dois por um. Promoção imperdível.
Entre os funcionários, o clima é de revolta e cansaço. Alguns relatam que são informados “no boca a boca” sobre atrasos, e que há uma espécie de silêncio institucionalizado sobre o problema. E quem ousa questionar ou expor a situação vira “persona non grata”, afinal, em tempos de vaidade eleitoral, mostrar os bastidores da saúde não é conveniente.
A comunidade, por sua vez, começa a despertar do transe junino. “Será que valeu mesmo o investimento em tantos dias de festa, enquanto o hospital agoniza?”, questiona uma moradora que prefere não se identificar, para evitar retaliações. Outros moradores apontam que há uma ala do governo — carinhosamente chamada de “turma do tapinha nas costas” — que acha tudo isso normal. Para eles, o importante é que teve palco, fogos e selfies com artistas.
Enquanto isso, os profissionais da saúde, aqueles que enfrentaram pandemias, surtos, filas e plantões intermináveis, agora precisam enfrentar atraso de salário, sobrecarga, falta de recursos e abandono. Mas calma, se faltar medicação ou atendimento, quem sabe colocam uma banda de forró no corredor do hospital para animar.
Ironias à parte, o cenário é gravíssimo e escancara o completo desalinhamento da atual gestão com as reais necessidades da população. Saúde, que deveria ser um dos pilares de qualquer administração, virou item secundário — quando lembrado. Resta à população exigir transparência, respeito e, quem sabe um dia, gestores que entendam que remédio é mais urgente que palco.
Por enquanto, segue o som da zabumba… abafando o grito de socorro dos profissionais da saúde.
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